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Síndrome de Burnout


18 de agosto de 2014, • Ana Giaxa - Destaques, Psicologia e Ciência.

BurnoutA Síndrome de Burnout, ao contrário do que é habitual pensar, não está associada ao sobrenome do seu descobridor, como o são a Síndrome de Down ou Alzheimer, exemplos clássicos.

Então, como a sonoridade do termo Burnout pode incitar, imediatamente a associamos à língua francesa e a um “dono francês” e fazemos o som burnô, equivocadamente.

Burnout é um termo da língua inglesa. Significa queimar até a exaustão, consumir-se, esgotar-se, sentir não ter mais nada para oferecer, se sentir sem condições(burn – queimar , out – “excluído, fora de”). O som é parecido com “bãrnê-aut”. Bem diferente! Não se preocupe, este início tem função instrutiva. Eu também pensava em “francês”, antes de estudar isto!

Falando mais simples, é o Esgotamento pelo Trabalho.

A notícia sobre a primeira publicação acessível sobre o tema data de 1974 nos EUA, quando o psiquiatra norte-americano Herbert Freudenberger, começou a notar que funcionários de uma clínica para dependentes químicos que ele trabalhava, se desgastavam muito com este trabalho de cuidados e atenção aos pacientes. Observou que a lida direta, a interação interpessoal, tão essencial para executar a atividade de cuidador, prejudicava a qualidade do trabalho e os usuários (pacientes) pareciam estar insatisfeitos com o que recebiam de atenção, com a qualidade do vínculo. Ele próprio, refere ter tido Burnout sem perceber.
No Brasil, a publicação data de 1987. Ainda não é reconhecida como doença ocupacional com este exato nome. De difícil diagnóstico, muitas vezes é confundida com uma depressão. Outra diferença é saber que estresse ocupacional não é o equivalente da Síndrome de Burnout.

A Síndrome de Burnout deve ser compreendida como uma reação. É uma resposta, mesmo que “mal adaptada” (o trabalhador adoece), para conseguir enfrentar o estresse ocupacional percebido na realização do seu trabalho.
Pronto! Todo mundo vai achar que tem.
Uma pessoa pode identificar o estresse ocupacional, mas não ter desenvolvido a Síndrome de Burnout.
Não é tão simples assim, alías, ela é de uma complexidade, que exige estudo de cada conceito envolvido nela. Por exemplo, quando falamos em Síndrome, o termo quer dizer que há alguns sinais e sintomas que sempre aparecem juntos. Estão associados.

Para a Síndrome de Burnout, devemos considerar três aspectos que costumam ser chamados de dimensões do Burnout. São elas: A EXAUSTÃO EMOCIONAL, A DESPERSONALIZAÇÃO E A BAIXA REALIZAÇÃO PROFISSIONAL.

A Exaustão Emocional é a dimensão pessoal sentida pelo trabalhador, através de um estresse proveniente da sua atividade ocupacional (profissão). É um cansaço, uma falta de motivação. Uma vontade quase que constante de não estar ali naquele trabalho, faltar, olhar o relógio, contar as horas para voltar para a casa. É uma sensação individual.

A Despersonalização é a dimensão interpessoal e defensiva. O trabalhador “se transforma” numa pessoa hostil, embrutecida, ríspida, irritadiça, impaciente. Parece que não faz questão de atender bem as pessoas no desenvolvimento do seu trabalho. Ela também é conhecida pelo cinismo. As pessoas fingem que estão bem, seja para se manter num trabalho, seja porque negam o que estão sentindo, ou os dois.

A Baixa Realização Profissional é novamente uma dimensão individual. O trabalhor passa a duvidar da sua competência, do trabalho como fonte de realização profissional e pessoal, duvida de mudanças para melhor. Está infeliz com o que faz e com o que realiza. Sente que só dá para ser feliz se sair daquele “inferno de trabalho”. Se ele pudesse, se não precisasse, sairia o mais breve possível daquela função e/ou daquele lugar (local de trabalho). O seu trabalho não parece ter um bom alcance para ele ou os outros não o reconhecem nisto.

Em todas, as condições em que uma atividade é desenvolvida influenciam muito. Ou seja, a qualidade das relações interpessoais com colegas de trabalho, o ambiente, o clima organizacional, a cultura, a valorização, a transparência e clareza de regras, a clientela, o produto oferecido, estão diretamente envolvidos. Por outro lado, o trabalhador também tem que estar numa função que ele tenha competência, treinamento, desenvolvimento pessoal e saiba ele, mais que ninguém, a importância do que realiza. Isto coloca o Burnout numa dimensão de total compromisso do trabalhador com o seu trabalho e de quem o emprega com o seu trabalhador. É um compromisso mútuo.

Autônomos também podem apresentar Burnout…

Para aqueles que não são empregados de ninguém, são autônomos ou prestadores de serviços, são seus “próprios chefes”, ou não trabalham com profissões assistenciais, onde o vínculo e a interação pessoal direta não estão envolvidos?

Até mais ou menos o final da década de 90, a Síndrome de Burnout era reconhecida e estudada somente em profissões assistenciais ou da saúde. Os exemplos clássicos são: professores, enfermeiros, assistentes sociais, médicos, psicólogos, psiquiatras, padres, bombeiros, policiais, delegados, juízes, e por aí vai…Mas, já é considerada uma Síndrome capaz de se desenvolver em quaisquer profissionais. O foco é a reação ao estresse ocupacional crônico e as condições de trabalho (do trabalhador e do ambiente).

Respondendo aos “autônomos” : não há como trabalhar isoladamente. Se é um advogado, seu “patrão” são os prazos, os clientes. Se é um empresário, são as condições de mercado, o produto, a folha de pagamento. Se é um pequeno prestador de serviços, é a exigência do cliente. Sempre haverá um “outro externo a você” que te perturba ou é percebido como tal. O essencial, para pensar em considerar a Síndrome, é como o trabalhador se sente frente ao cansaço envolvido numa profissão e as pessoas que o auxiliam, ou recebem o seu trabalho.

Todos temos momentos e fases difíceis numa carreira e profissão. Não devemos nos desesperar, frente a uma desorganização temporária, de piora das condições pessoais ou do ambiente de trabalho. Tal qual o estresse geral, a Síndrome de Burnout, se desenvolve quando o estresse é crônico. Deveria passar, ser uma fase, mas é contínuo. Isto é que esgota, não ter como se recompor.

Como se trata? O ideal, quando se fala em Organizações (empresas) é que sejam considerados melhorias nas condições de trabalho. Para o trabalhador, que seja ofertada a possibilidade de apoio psicológico em grupo ou individual, dependendo do objetivo, de treinamento, qualificação, benefícios, que incrementem um trabalho. Isto é sempre bem vindo. Por outro lado, o trabalhador pode precisar repensar sua função, trabalho, etc, e para isto, pode se beneficiar do acompanhamento individual focado no desenvolvimento pessoal direcionado para o mundo do trabalho. Cabe ao trabalhador se situar e saber que há ajuda e melhora. Que ele pode colher melhores frutos se aprender a lidar com o estresse ocupacional. O acompanhamento psicológico vai estar focado nisto: em como ele se realizava, como se preparou e onde foi que esta “engrenagem” trabalho-trabalhador ruíu.

Os textos anexados foram gentilmente cedidos pela Dra. Ana Maria Benevides-Pereira, co-orientadora de mestrado

FREUDENBERGER, H. J. O fenômeno da Estafa. In: FREUDENBERGER, H. J. (Ed.). Estafa: o alto custo dos grandes empreendimentos. 1a. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. p. 23–38. (dividido em dois textos – prefácio e capítulo)

FRANÇA, H. H. A Síndrome de Burnout. Rev Bras Med, v. 44, n. 8, p. 197–199, 1987.

FREUDENBERGER, Herbert J. Staff Burn-Out. Journal Of Social Issues, v. 30, n. 1, p. 159–166, 1974.

a-sindrome-de-burnout-franca1987

 





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