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A Internação Psiquiátrica


18 de abril de 2014, • Ana Giaxa - Psicologia e Cotidiano.

Texto anexo apresentado em Reunião Clínica do Serviço de Psicologia da Ala de Dependentes Químicos do Hospital Pinheiros – Clínica Psiquiátrica em Agosto de 2001 (ocasião em que a profissional compunha equipe).
O texto foi escrito num momento em que os pacientes estavam internados, ou seja, que não havia condições que eles estivessem mais cuidados do que ali. Eles se beneficiavam desta condição. É a visão de quem está de dentro da situação como profissional, testemunhando o valor que pode ter a Internação Psiquiátrica, quando bem indicada.

Por que um psicólogo deve poder valorizar e incluir a possibilidade de tratar pacientes que já tiveram ou terão necessidade de intervenção psiquiátrica seja ambulatorial ou hospitalar (necessidade de internação)?

Porque o tratamento psiquiátrico e acompanhamento psicológico podem caminhar juntos, quando o caso clínico requer isto. O principal é que o vínculo que o paciente e seus familiares fizeram com estes profissionais esteja bem estabelecido. Que as funções de cada profissional esteja bem esclarecida.

Podemos pensar em alguns “contextos” de tratamento psiquiátrico com ou sem internação.

Existem pacientes que se beneficiam somente do uso de medicação, pois não veem a necessidade de serem acompanhados psicologicamente. Tem aqueles, que se beneficiam de medicamentos e de acompanhamento psicológico. Outros, não querem nem pensar na possibilidade de usar algum medicamento e só aceitam acompanhamento psicológico. Há ainda aqueles que não aceitam nenhum nem outro. Daí que vem a necessidade de que uma Internação Psiquiátrica seja pensada em qual função ela terá. O sabido é que nenhum medicamento tem o compromisso de medicar “nossa história” ou nossa subjetividade e sim, processos mentais envolvidos na neuroquímica cerebral relacionada nos comportamentos. Isto deve ser comunicado para o paciente e família. O fator bem difícil envolvido é que, quando ela ocorre, uma situação já saiu do controle, então ela costuma estar associada a um “pesadelo” para paciente e família.

O principal motivo é o abuso de substâncias ilícitas (drogas), lícitas (álcool, antidepressivos, antipsicóticos, anoréxicos,etc) que desorganizam o funcionamento mental. A pessoas, às vezes, não conseguem nem pensar direito, desregulam sono-vigília, por exemplo. Pessoas gravemente deprimidas podem ser um risco para si e para os outros. Tem outras com psicopatologias (por exemplo, esquizofrenias) que precisam ser acolhidas num ambiente mais seguro que o seu lar.

A internação não é um confinamento. Deve ser a oportunidade de mudar o contexto para intervir mais de perto, nesta fase de reestabelecimento. Ela tem objetivos orgânicos primordiais sim. Logo que o paciente se estabiliza, começam os processos psicoterapêuticos. Creio que isto é que dá a conotação de estar fora de si, de não pensar por si próprio, de estar alienado. Mas, é justamente para que o paciente possa pensar, sentir e se expressar, quando já está em melhores condições, que ela é um recurso terapêutico. Então, ela aponta para um agora encaminhando um depois. A internação não cura, ela trata o problema manisfetado agudamente. O tratamento está na vida, no cotidiano, na valorização dos aspectos mentais saudáveis do paciente, principalmente por ele próprio.

Enfim, este tema nunca sai da “moda”: a sociedade tem que responder ao que vem quando o tema é desospitalização, residências e comunidades terapêuticas, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Hospitais-Dia, das dificuldades de identificar e conviver com manifestações psiquiátricas crônicas ou agudas (as mais atuais são as adicções e anorexia). O texto situa um pouco o “tabu da doença mental e a dos Hospitais Psiquiátricos” historicamente.

Ele também objetiva a atenção na recomendação pelos profissionais da saúde e os benefícios que ela pode alcançar, inclusive os benefícios medicamentosos. Ainda ela é um processo de desintoxicação de muita valia para reiniciar um tratamento ambulatorial.

Então, podemos verificar que, a necessidade de uma Internação Psiquiátrica, põe em andamento a dinâmica psíquica tanto do paciente, quanto dos seus familiares.
É impossível não se incomodar quando isto acontece com a gente ou com algum familiar ou conhecido!
Esse é um assunto sempre muito delicado. Normalmente encarado também como “motivo de vergonha” ou punição.

Para quem ela é boa: para o paciente? Para a família? Para a sociedade? Deve ser para todos e nesta ordem!

Ela deve sempre contemplar primeiramente as condições em que se encontra o paciente e responder a algumas perguntas essenciais:

1) o paciente consegue ter atividades de rotina diária: dormir, comer, interagir com as pessoas, locomoção, autos-cuidados como banho, higiene e apresentação pessoal?

2) está conseguindo ir trabalhar todos os dias? Não trabalha fora, mas não faz mais nada dentro de casa?

3) está muito deprimido, não conversa com ninguém ou fala pouco? Mudou rotina nas duas últimas semanas?

4) está agressivo consigo mesmo? Faz referência a sentimento de culpa: ” eu não presto, ninguém me quer “ ou está agressivo com os outros?

5) tem ideação suicida? Manifesta alguma ideia de não querer mais viver?

Não são poucas as perguntas, mas se consideradas, podem auxiliar muito na decisão de uma Internação Psiquiátrica.

Ela deve ser indicada e acompanhada por um médico. Normalmente ela vem amparar um momento de crise do paciente que se desestabilizou, então ela é necessária. Um psicólogo ou profissional da saúde pode recomendá-la, mas vai indicar sempre um profissional médico por causa da necessidade medicamentosa.

Se considerarmos a Reforma Psiquiátrica (início da década de 90), o fechamento de Hospitais Psiquiátricos e a redução de leitos hospitalares, é mais difícil mesmo pensar em tirar temporariamente alguém do seu convívio familiar. Mas, bem recomendada, é muito útil e pode abrir portas para um recomeço de tratamento psíquico.

A Internação Psiquiátrica, em casos de descontrole emocional, ainda é uma forma de enfrentar a crise psíquica, intervir e verificar efeitos de medicamentos na dosagem correta, bem como reabilitar o paciente ao convívio social, autos-cuidados, trabalho e convívio familiar mais sadio.

Ela deve ser temporária e a família acompanhar o processo de internação, porque é para o ambiente familiar que o paciente deve, preferencialmente, retornar.

O texto pode ser acessado no link abaixo

A internação Psiquiátrica

 

 

 

 





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